Ao identificar problemas na gestão de estoque e na organização de trabalho de setores da distribuidora atacadista onde trabalha, o coordenador de auditoria Arthur Ronan Alves, 23 anos, resolveu sugerir alterações na forma como os processos eram realizados na empresa. Mas, no caminho, se deu conta de que uma ideia na cabeça e boa vontade nem sempre são suficientes e encontrou resistência em alguns superiores. “As reações foram as mais variadas possíveis. Houve desde aqueles que gostaram das ideias e as compraram de imediato aos que pensaram: Quem é esse cara? Chegou agora e quer saber mais do que eu, que estou há anos na empresa?”, conta.
Para conquistar os colegas na distribuidora Nova Amazonas, Arthur teve que confiar no próprio taco e acreditar que era possível e necessário fazer algo diferente, pois, simplesmente, agir de acordo com as ações dos outros não mudaria a situação. O jovem sugeriu mais planejamento de tarefas, com identificação e correção de erros. Após promover reuniões, mostrar análise de dados e de processos, as ideias finalmente foram postas em prática. A ousadia valeu a pena. “Os resultados estão vindo. Felizmente, os efeitos apareceram em curto prazo. O mais relevante até o momento é a redução de 80% dos erros de armazenamento, o que diminui o retrabalho, o nível de estresse e vem permitindo novos projetos em benefício dos funcionários e da empresa”, diz ele, que acredita que a atitude fez a confiança em sua capacidade crescer entre os chefes.
Longe de ser incomum, a vontade de propor mudanças no ambiente de trabalho é encarada positivamente pela maioria dos empregadores, mas exige cuidados. “As empresas veem essa atitude com bons olhos. A reclamação das companhias é justamente a falta de iniciativa e de novas ideias para mudar processos. O imediatismo em querer emplacá-las automaticamente pode atrapalhar, pois há certa dificuldade em provar que o conceito funciona e em convencer os outros da validade da ideia. O segredo é mostrar que joga no mesmo time. Não se trata de queda de braço: é preciso ajudar a resolver os problemas e colocar na conta da equipe”, orienta Wang Ching, coach empresarial em RH e sócia proprietária da 4 Coach.
Focar nos benefícios que a alteração trará para todos, além de pesquisar sobre o assunto e prestar atenção ao tom utilizado na reunião aumentam a chance de sucesso (veja quadro). “Quem sugere uma ideia não pode se esquecer da necessidade de vendê-la bem. O foco absoluto deve estar nos benefícios advindos da mudança. É preciso realizar uma análise do contexto, dos prós e dos contras do ambiente naquele momento e, então, a sugestão de melhorias. Deve-se fazer uma defesa contundente dos resultados que podem ser conquistados, mas sem achismos, com informações firmes e embasadas sobre o impacto no dia a dia da companhia”, ensina o palestrante e consultor profissional José Ricardo Noronha. Para ele, o investimento em inovação gera benefícios em desempenho e lucratividade. “As organizações mais propensas a mudanças incrementam o tempo todo seus processos e geram melhores experiências para seus clientes e profissionais”, defende.
Teimosia
Entre as possíveis dificuldades enfrentadas por alguém que se propõe a sugerir inovações no contexto profissional, estão a desconfiança e a resistência. “Os argumentos para a relutância das companhias a ideias são variados: ‘já tentamos isso’, ‘é muito caro’, ‘não temos tempo’, ‘não há estrutura’, ‘precisamos de mais capital humano’, ‘os superiores nunca aceitarão’ e fatores como o acirramento das vaidades na equipe. As opções são concordar ou mostrar que as dificuldades são relativas e que existem soluções viáveis para transpô-las, como perguntar quanto orçamento há disponível e adequar a proposta a ele ou lembrar que os funcionários querem o melhor para todos”, diz Wang Ching.
Na visão do sócio diretor da empresa de consultoria Véli Soluções em RH, Bruno Goytisolo, o comportamento é natural e pode ser combatido. “O ser humano gosta de rotina, por isso é comum haver resistência, principalmente por parte de quem está há bastante tempo na organização. No entanto, com treinamento e vivências, é possível conscientizar as pessoas sobre a necessidade de evolução da empresa, o que implica em modificações”, afirma.
Há, ainda, setores mais e menos amigáveis às proposições. Em segmentos tradicionais, em que regras e padronizações são rígidas, como finanças, gestão e direito, a alteração em processos costuma ser mais lenta. Já em áreas como tecnologia e comunicação, a adesão a novas ideias tende a ser mais rápida. Independentemente do ramo de atividade, as organizações que mantêm relacionamento mais próximo com os funcionários podem antever problemas e, assim, evitar que o colaborador tenha de enfrentar um conflito. “Como é o espaço em que as pessoas passam a maior parte do dia, o ambiente de trabalho deve ser harmonioso. Com pesquisas periódicas de clima organizacional, respondidas de forma confidencial, é possível saber a percepção dos funcionários sobre problemas e ter uma atitude proativa sobre eles”, afirma Bruno Goytisolo.
“Ainda que as ideias dos colaboradores sejam positivas, as mudanças mais profundas devem partir da liderança”, completa. “A direção da companhia deve estar próxima dos profissionais, em contato frequente com liderados e também com o público-alvo e com os clientes. As ideias de propositura permanente e dos insights devem ser valorizadas para a criação de uma cultura de compartilhamento de ideias”, indica o palestrante e consultor profissional José Ricardo Noronha.
Inovação premiada
» A fim de estimular a participação de funcionários na criação de ideias, algumas empresas investem na premiação de funcionários inovadores. A multinacional farmacêutica AstraZeneca, por exemplo, dá bônus de até R$ 800 para colaboradores que sugerem soluções à companhia. Na Nextel, os funcionários ganham prêmios em dinheiro e homenagens por boas ideias.
» Na opinião da coach empresarial Wang Ching, as iniciativas são válidas. “As empresas devem estimular o surgimento de ideias nas equipes por meio de políticas e normas que favoreçam e premiem quem gerar inovações. Canais específicos para captação dessas sugestões — pela internet ou em caixas físicas, por exemplo —, seu aproveitamento efetivo regular pela organização, reconhecimento dos autores das melhores propostas, encontros para exposição de ideias, bonificação financeira e outras ações concretas demonstram a valorização dessas iniciativas.”
Prepare suas armas
Confira orientações de profissionais de RH para propor mudanças de forma mais eficiente.
» Evite o tom de crítica. Antes de fazer a proposta, pesquise sobre o assunto para contar com mais embasamento. Aponte aspectos positivos e negativos e coloque-se no lugar de quem avaliará a sugestão para fortalecer argumentos.
» Em vez de apenas mostrar problemas, proponha soluções. Foque nos benefícios coletivos que a mudança poderá trazer. Esteja aberto a questionamentos e a possíveis mudanças na ideia original.
» Os motivos para uma negativa são variados, da falta de orçamento à vaidade dos superiores. Nesses casos, você pode concordar ou fazer uma contraproposta.
Fontes: Bruno Goytisolo, Wang Ching e José Ricardo Noronha.
Clique aqui para ler a reportagem no site do Correio Braziliense.
José Ricardo Noronha | www.paixaoporvendas.com.br
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